2 de outubro de 2014

4 poemas do galego Ramiro Torres

Para o M-A,
este poema radioativo-irradiante.



O poeta acorda nas

palavras estalantes,

caminha por jardins

pulsando corpo adentro

como galáxias iniciais:

esquecido o seu nome,

lança-se a um oceano

inextinto até saciar a

sede de céu irradiante

que sonha sob os olhos

de espuma imemorial.

Sabe arder à noite,

atravessando a janela

impossível sobre

a dança do universo,

entusiasmado pelos

corpos que se decifram

e descobrem como

luminosidade entrante no

magma do vazio inebriado.

 


VIBRAÇÕES ILUMINADAS


I

  Abraçar o desenho

 orgânico do universo

 em coito demorado

 até esvaecer entre

 fendas impensáveis:

 o trabalho do poema é

 obscurecer as mãos

 da realidade até achar

 o fulgor emergido do

 invisível entre a luz

 convulsa dos amantes.


II

 Inauguram-se cosmogonias

 nesta lâmina iridescente

 aventurada na noite:

 preparamos incêndios

 entre os nossos olhos

 e o existente, confiamos

 no sonho que nos devora

 e dançamos sob a terra

 transparente que agacha

 pupilas desnudas, como

 ruas de um universo em

 feroz expansão sobre nós.


III

 Somos terra hipnótica,

 arcano nascendo como

 desenho aberto no meio

 do poema em ignição:

 trabalhamos no íris do

 coração como videntes

 à procura do sol líquido,

 onde o vulcão vibra no

 ser como vertigem a

 fremir corpos adentro.

 
 
 
Ramiro Torres nasceu na Corunha (Galiza), em 1973. Membro do Grupo Surrealista Galego, codirige a revista digital Palavra Comum. Publicou o seu primeiro livro individual em 2013, "Esplendor Arcano".