4 de agosto de 2014

Acto e metáfora



Foto: Cena de ' A face e o fogo' Acto realizado por Marcelo Ariel e Chiu Yin Chih dentro do evento ' A cidade: A travessa' na Casa das Rosas em Novembro de 2010.

a palavra 'performance' está um pouco contaminada pela banalidade imposta por seu uso constante dentro da dimensão burocrática do espetáculo, no lugar dela prefiro utilizar a palavra 'Acto', penso que qualquer gesto que acontece em um corpo é uma performance, mas apenas os gesto significativos criados no instante entre o pensamento imanente e o poema de intervenção são capazes de conter uma camada de metáforas objetivas,este gestos formam o que chamo de um 'Acto'. As metáforas objetivas se diferem das metáforas associativas que criam 'vasos comunicantes' entre uma coisa e outra, as metáforas objetivas são elas mesmas a coisa e embora se relacionem com alguns aspectos imagéticos de uma simbologia, não estabelecem nenhum grau de vínculo com aquilo que não está lá , funcionam mais como fotografias de estados sutis, cheiros do espírito ou da vida interior dos actores.

Denomino 'vida interior dos actores' não o que foi pensado previamente, mas o que brota diretamente do imagético onírico desprovido de um poder obscuro de esquecimento e aparece nos gestos em camadas duplas de significados, como nos quadros abtstratos, jamais como nos quadros expressionistas.

Um guarda -chuva pegando fogo é apenas um guarda-chuva pegando fogo, mas o gesto de segurá-lo possui mais de uma camada de significados. A imagem em si seria apenas mais uma metáfora associativa, mas o gesto em si é mais do que isso, possui uma objetividade abstrata.

Objetividade abstrata é exatamente o que sinto ser o momento/instante/hoje em que atuamos fora ou nas bordas do 'Acto', o que nos leva ao paradoxo do viver .

O Acto é então a evocação do paradoxo dentro dele e não fora dele, em uma espécie de fuga do distanciamento irônico do fluxo da multidão maquínica, típica da nossa época,o distanciamento que é ele mesmo, o maior sintoma da nossa morte simbólica e da nossa ilusão de controle e entendimento do paradoxo.

Marcelo Ariel