12 de julho de 2014

Poema de L. K. Holt



REVOLTA
traduzido por Daniela Neves

1.

O início é 
o mais longe

o mais selvagem 
domínio do fim.

Minhas lágrimas são
a minha comida.

Por que és tão pesada, alma minha,
Agitando-se em rolamentos interiores?

Chamados profundos às profundezas do mar.
A tempestade massiva derrama saliva sobre mim.

Por que não se pode acalmar
alma minha?

Mesmo sem fé
há sempre um cenário melhor.




2. 


Dia e noite choro
ao pé dos seus ouvidos.

Sou como aqueles com a morte por vir.
Repouso ao meu lado, em meus joelhos

remoendo a terra.
Seus terrores sofro desde jovem

em cada criado-mudo anoitecendo no quarto,
em cada gota de olhos escuros,

em cada xícara quente bebida 
o coração desponta,

a cada soneto se encolhe a cabeça
enrolada ao pescoço.

O medo me ronda dia-a-dia,
maré-cheia sem lua, a cada lado.




3.


Perguntei à pedra: quem está satisfeito,
por que vou com tanto peso,

por que os ossos se arrastam?
Após a pequena gentileza de luz

devo cantar pela estação da noite?
Sou co-participante.

Adúltera. Facilitadora.
Cão-de-guarda asfixiador.

Assisto agora os pássaros
para não ver a mim.

Quando o pássaro que rogo
lança vôo

respiro fundo – uma só vez:
devemos punir a vida que segue adiante.




4.


Escute-me. Não esconda sua face
que oculta sua cabeça horrível.

Todas as minhas visões são metades.
A galhada aparente de um cervo escondido;

rastro fresco de um raposa em fuga
cheia de pêlos e ossos, estática como os bonecos de vudu...

Apenas para ter a visão nítida
do amor.

Meus inimigos desafiam meus dentes
em minha língua, e zombam de mim

pois onde está agora o seu Amante?
Onde está ele?

Há coisas que nunca vi
e são minhas. São minhas para dar.




5.


O abismo é uma onda na rocha
que aguarda. Acostado no topo

está um filhote de albatroz, que acompanha
os passos da mãe à primeira luz do dia.

Não se move, nem pisca, adágio
até vir à frente o crepúsculo.

Você me deixa assim sobre essa rocha
e ordena que eu permaneça.

Meu coração um navio cargueiro
estacionado na superfície,

marítima pele negra reluzindo
na luz interior.

Firme o pulsar do coração prometido:
um batimento mutilador, outro paciente.